terça-feira, 12 de agosto de 2014

Vagas - Editora do Brasil, Boitempo e GEN

Editora do Brasil, Grupo Gen e Editora Boitempo estão contratando
 
A Editora do Brasil está contratando editor de texto, assistente editorial, assessor pedagógico jr., analista de atendimento e auxiliar de divulgação. Os interessados em concorrer as vagas devem enviar currículo para ana.rh@editoradobrasil.com.br. O Grupo Gen está com uma vaga aberta para analista editorial. É exigida graduação concluída (ou próximo da conclusão) em letras ou produção editorial. Interessados devem enviar currículo para eliane.gomes@grupogen.com.br ou mariana.tuzzolo@grupogen.com.br. Já a Editora Boitempo está contratando vaga para auxiliar de estoque, com experiência anterior no mercado editorial. Os currículos devem ser enviados para vendas@boitempoeditorial.com.br.
 
 
Anúncio publicado originalmente aqui no PublishNews.

domingo, 10 de agosto de 2014

Miss Potter, Peter Rabbit e Ursinho Puff


Vi esse filme há algum tempo, gostei e quero compartilhar umas ideias. Ele mostra um pouco dos bastidores editoriais em relação a novos autores.

Apesar de a capa lembrar "Mary Poppins" e de (acredito eu) muita gente não ter ideia de quem raios é "Miss Potter", o filme é interessante. Trata-se da biografia meio romantizada e levemente cômica da autora e ilustradora inglesa Beatrix Potter (1866-1943).

Beatrix Potter

Beatrix Potter ficou famosa por seus livros infantis, sendo o mais famoso Peter Rabbit e seus amigos - esse livro teve uma versão para o cinema e também havia alguns episódios curtos que a TV Cultura exibia, talvez ainda exiba, mas eu não assistia porque achava chato, embora os traços dos desenhos fossem bonitos.




O filme pode ser visto no YouTube:


Beatrix vinha de uma família rica, sua mãe queria que ela se casasse - de preferência, com um rapaz da mesma classe social que ela -, no entanto, ela parecia mais interessada em escrever e ilustrar, pois alimentava o sonho de ver seus livros publicados.


Ela gostava de desenhar animais, provavelmente porque também gostava de observar seus animais de estimação e outros que ela via quando ia passar as férias no campo durante a infância.

Consta na Wikipédia (ou seja, o dado é incerto) que ela apresentou seu trabalho a várias editoras e tentou publicar seu primeiro livro 70 vezes, sendo que 69 tentativas falharam. No filme, podemos ver a resistência de dois irmãos editores, já meio velhos, em publicar os livros dela. No entanto, o irmão mais novo dos editores, Norman Warne, queria muito participar dos negócios da família e um dos irmãos acaba incumbindo-o de cuidar da edição e publicação do livro de Beatrix. Ele nunca havia publicado nada antes, mas mostra-se muito interessado em fazer aquilo dar certo. Há uma cena em que Beatrix e Norman aparecem na gráfica onde os livros seriam impressos e Beatrix pede uma alteração de cores - se não me engano, as cores das ilustrações estavam muito escuras e ela pede para suavizá-las.

[Trailer do filme:]


O primeiro livro, The Tale of Peter Rabbit (Peter Rabbit e seus amigos), acaba sendo um sucesso, os editores ficam felizes com as vendas, assim como Beatrix, e ela consegue comprar uma casa com o dinheiro dos direitos autorais. Algo bastante incomum para uma mulher no início do século XX, quando o mais "normal" seria arranjar um bom casamento e formar uma família.

 1ª edição (1902)

Depois de um tempo, Beatrix e Warne acabam ficando noivos em segredo, pois a família dela não queria que ela se casasse com um "comerciante", alguém de classe inferior. No entanto, um mês após o pedido de noivado, ele morre e Beatrix meio que entra em depressão, se recusa a sair de casa, mas continua trabalhando. A partir disso, a história se encaminha para um final feliz, mas agora quero voltar ao momento em que a Beatrix apresenta seu trabalho a vários editores e ninguém quer publicar o trabalho dela. E por que não querem publicar?

Provavelmente porque os editores não viam potencial de venda naquele material, ainda que fossem "bonitinhos" e benfeitos. No entanto, um dos editores acreditou que introduzir livros infantis em seu catálogo poderia lhe render um pequeno lucro. No fim das contas, o livro acabou sendo um sucesso e gerando muitos lucros para a editora e também para Beatrix.

Quero chegar na questão: como é que os editores sabem quais livros têm potencial de vendas ou não?

Pois é, não sabem. A publicação da maioria dos livros são tiros no escuro. Acredito que nenhum editor consiga afirmar com certeza que a publicação de um novo autor (ou de um autor "desconhecido") vá ser um sucesso de vendas. Então a editora investe em livros de novos autores com a esperança de que o público goste. Se o público gostar e se as vendas forem boas, é provável que a editora continue se interessando e publicando outros livros desses autores. Se não, é mais provável que a editora recuse outros livros escritos por eles.

Mas existem casos improváveis também. Lembro de ter lido no livro Escola de tradutores, do Paulo Rónai (recomendo o livro!), que o tradutor Alexander Lenard (médico húngaro que depois veio morar no estado de Santa Catarina) havia traduzido O Ursinho Puff, livro infantil escrito por A. A. Milner e publicado em inglês pela primeira vez em 1926, para o latim e estava buscando um editor para esse material. Foi muito difícil encontrar um editor que topasse a empreitada, até que ele encontrou um e a tradução foi publicada em 1958 como Winnie Ille Pu. O livro foi um sucesso, ficou na lista mais vendidos do jornal New York Times por várias semanas e teve edições de capa dura e, se não me engano, mais luxuosas do tipo "especial de Natal" também. Não acreditam? Vejam a capa do livro abaixo:


Acredito que existem formas de minimizar o "prejuízo" e evitar que os livros fiquem encalhados por anos, às vezes, décadas, e que não se pagam (ou seja, alguns livros têm uma quantidade de vendas tão ruim que o valor gasto com revisores, designers, papel, gráfica etc. nunca é recuperado), mas isso também não é garantia de nada.

Algumas grandes editoras no Brasil usam o serviço de "olheiros" no exterior (na verdade, esse trabalho tem um nome específico que me escapa agora); são pessoas que ficam bastante antenadas no mercado editorial externo, observando e analisando quais títulos estão fazendo sucesso/ vendendo bastante e passam essas informações para as editoras brasileiras, para elas possam avaliar até que ponto seria vantajoso apostar em tais e tais títulos no Brasil, considerando o público da editora, o que editoras concorrentes estão publicando e que está dando certo, entre outros fatores.

Fiquei pensando que se eu tivesse de escolher quais títulos de autores novos (nacionais ou estrangeiros que não são conhecidos no Brasil) publicar, eu precisaria estabelecer alguns critérios, considerando o potencial de vendas e também a pressão da editora em relação às minhas escolhas (considerando que, teoricamente, eu seria paga para escolher os títulos com mais potencial para virar best-sellers e gerar mais lucros para a empresa). Fiquei pensando nisso e alguns dos critérios em que eu pensaria seriam esses:

1. O(a) autor(a) ganhou ou foi indicado(a) a prêmios literários nacionais importantes e, portanto, tem uma certa visibilidade na mídia;

2. Escreve razoavelmente bem (esse critério é para não dar tanta dor de cabeça na hora da edição e revisão; em geral, quanto pior a pessoa escreve, mais o livro demora a ser lançado e, dependendo da editora, não há tempo para "frescuras do autor" porque o livro precisa ser lançado em determinada data por questões comerciais);

3. O(a) autor(a) publicou textos com acesso gratuito na internet, tem um certo público que já conhece seu trabalho e que provavelmente compraria o livro caso fosse publicado;

4. No caso de livros estrangeiros, buscaria opiniões de leitores na Amazon ou na Good Reads (https://www.goodreads.com/) e analisaria se o conteúdo do livro tem chances de despertar interesse no público leitor brasileiro ou se as diferenças culturais (e até a dificuldade em traduzir o conteúdo de forma inteligível) seriam uma barreira para o livro decolar por aqui;

5. Entraria no site de grandes livrarias (Livraria Cultura, por exemplo) e no Skoob (www.skoob.com.br) para ver se há títulos com temática parecida e qual a aceitação e quais os comentários dos leitores a respeito desses livros;

6. Tentaria estar ciente das tendências de interesse e de consumo dos brasileiros em geral; por exemplo, há alguns anos, havia muita gente interessada em cultura japonesa, mangás, animês, literatura japonesa, cinema japonês, hoje em dia, tenho a impressão de que o interesse das pessoas está se voltando para a cultura coreana (por isso, aos poucos, livros de literatura coreana vêm sendo lançados, para a minha alegria :);

7. Pensaria em que tipos de canais os livros poderiam ser divulgados (em que blogs ou em que outro tipo de mídia a divulgação daria mais retorno);

8. Me desejaria sorte e que os livros fossem um sucesso de vendas. :)